Me responda uma pergunta. Você acha que só o patologista
tem que saber o histopatológico?
Uma das coisas que mais gosto também é o terror dos alunos
de graduação. Histopatologia ou Histologia patológica é o estudo de como uma
doença específica afeta um conjunto de células. Seu nome é formado da combinação
entre três palavras gregas: histo
(tecido celular), pathos (doença) e logia (estudo).
Acontece que minha relação com ela nem sempre foi assim.
Quando estava na graduação, principalmente nas vésperas de provas de Patologia,
eu brigava muito com ela. Mesmo fascinado pelas síndromes, doenças e lesões,
uma pergunta sempre surgia na minha cabeça “Por que tenho que saber isso?”. Sempre tive facilidade em memorizar o que lia
e passei de ano assim. O segundo ano passou, as aulas de Patologia acabaram e não
precisei saber Histopatologia, pelo menos, naquele momento eu achava isso. As
atenções se viraram para a Cirurgia, Dentística, Prótese e Endodontia.
Por vários motivos, assim que me formei acabei indo fazer um
mestrado em Patologia Bucal. Com certeza não foi fácil. Como eu poderia olhar
para uma lâmina e saber que doença era aquela? Tenho que decorar o livro de
Patologia Bucal? Meu Deus, o pesadelo voltou. Quebrei muito a cabeça, sabia que
aquilo era muito importante para minha vida. Por necessidade, acho que um milagre aconteceu, aprendi a estudar. Aprendi que não
adiantava decorar as características histopatológicas, eu precisava entender
aquilo. Quando lia epitélio, tinha que ir estudar histologia, quando lia
bactéria, tinha que estudar microbiologia, tive que fazer isso com tudo. Fui
estudar bioquímica, genética, fisiologia....
Mas o que esse resumo da minha vida tem a ver com a
Histopatologia? Para responder essa pergunta vou citar um fato. Não tenho a
menor sombra de dúvida que me enganei quando achava que não precisava saber
Histopatologia. Digo isso não porque fui fazer Pato Bucal, mas sim porque hoje
eu vejo tudo de maneira diferente. Há dez anos que não faço uma restauração ou
uma raspagem periodontal se quer, mas sei mais sobre cárie ou periodontite hoje
do que naquela época. Lembro que quando fui fazer minha primeira restauração,
não sabia direito o quanto de dentina tinha que remover com a broca. Hoje,
quando penso em cárie, automaticamente imagino as bactérias metabolizando os
carboidratos, produzindo ácido que desmineralizam o dente, consigo imaginar
essas bactérias dentro dos túbulos dentinários, sei quais alterações aparecem
no tecido cariado. Quando você faz uma
restauração você sabe quando e porque colocar um forramento cavitário? Quando
você faz uma raspagem periodontal você sabe porque e o que está raspando? Você
acha que basta ler as instruções do material restaurador ou decorar os passos
de uma técnica? Acredito que quem sabe o que está acontecendo ali naquele
lugar, seja em uma cárie, uma gengivite, uma pulpite ou até mesmo em um tumor,
consegue fazer um tratamento mais eficaz e consciente, é capaz de se adaptar a
situações que saem do comum, deixa de ser um técnico e passa a ser um Cirurgião
Dentista.
Nenhum comentário:
Postar um comentário