A saliva desempenha um importante papel na saúde bucal. Ela age na proteção contra bactérias e fungos, no transporte de nutrientes e enzimas digestivas, na lubrificação da cavidade oral, na remineralização dos dentes e no auxilio da mastigação, deglutição e fala.
Há duas condições importantes relativas à saliva e seu impacto sobre a saúde bucal que são frequentemente confundidos na literatura, hipofunção da glândula salivar e xerostomia. É importante para o clínico entender melhor essas condições.
Hipofunção
da glândula salivar é uma condição na qual o fluxo salivar não estimulado ou
estimulado é significativamente reduzido e pode também resultar em alterações
da composição química da saliva. É geralmente definida como uma taxa de fluxo
salivar não estimulado menor que 0,1 a 0,2 mL/min e um fluxo salivar estimulado
de menos de 0,7 mL/min.
A
xerostomia é definido como a percepção subjetiva de boca seca. A percepção da
boca seca é, por vezes, mas não necessariamente acompanhada por uma redução no
fluxo salivar. Embora a hipofunção da glândula salivar seja uma das principais
causas dos efeitos deletérios sobre a saúde
bucal, xerostomia também pode ter um grande impacto sobre a saúde bucal
e na qualidade de vida. Os sintomas da xerostomia incluem dor, halitose, ardor,
dificuldade para engolir e falar e alteração do paladar.
A
xerostomia e a hipofunção da glândula salivar podem aumentar o risco de cárie,
contribuir com doenças periodontais e infecções, tais como a candidíase. A
saliva tem uma papel importante na retenção de dentaduras e a hipofunção da
glândula salivar pode ter um efeito significantemente prejudicial aos usuários
de próteses totais.
A
xerostomia não é uma doença, mas pode ser um sintoma de várias condições
médicas, um efeito secundário da radioterapia em cabeça e pescoço ou um efeito
colateral de uma grande variedade de medicamentos. Pode ou não pode estar
associada com a hipofunção da glândula salivar. A xerostomia é uma queixa comum
em idosos, afetando aproximadamente 20 por cento deles. No entanto, xerostomia
parece não estar relacionada com a idade em si, mas sim a uma maior
probabilidade dos idosos estarem tomando medicamentos que causam xerostomia
como um efeito colateral.
Diagnóstico e avaliação de xerostomia
O
diagnóstico da xerostomia pode basear-se em evidências obtidas a partir da
história do paciente, no exame clínico da cavidade bucal e/ou sialometria, um
procedimento simples que mede a taxa do fluxo de saliva. A xerostomia deve ser
considerada se o paciente se queixa de boca seca, principalmente à noite, ou de
dificuldade de comer alimentos secos. Quando a boca é examinada, uma espátula
pode grudar na mucosa bucal. Nas mulheres, o "sinal de batom", onde o
batom adere aos dentes anteriore, também pode ser um indicador útil de xerostomia.
A
mucosa oral pode se apresentar seca e pegajosa ou pode aparecer eritematosa
devido a um crescimento de fungos (candidíase eritematosa). As manchas vermelhas, muitas vezes afetam o
palato duro ou mole e dorso da língua. Ocasionalmente, candidíase
pseudomembranosa estará presente, aparecendo como placas brancas removíveis a
raspagem em qualquer superfície mucosa. Pode haver pouca ou nenhuma saliva
reunida no assoalho bucal e a língua pode aparecer seca com diminuição do
número de papilas. A saliva pode aparecer pegajosa ou espumosa. Cáries podem
ser encontrada nas margens cervicais e incisais.
(Clique na imagem para ampliar)
Vários testes e técnicas podem ser
utilizados para determinar a função das glândulas salivares. Na
sialometria, ou medição de fluxo salivar, dispositivos de coleta são colocados
sob os orifícios dos ductos da glândula parótida ou das glândulas submandibular
ou sublingual e a salivação pode ou não ser estimulada com ácido
cítrico. A taxa de fluxo salivar normal para a saliva não estimulada a
partir da glândula parótida é de 0,4 a 1,5 mL/min/glândula. A taxa de
fluxo normal total para a saliva não estimulada ou em "repouso" é de 0,3 a
0,5 mL/min; para saliva estimulada, 1 a 2 ml/min. Valores menores do que 0,1
mL/min são considerados tipicamente xerostômicos, embora o fluxo reduzido nem
sempre pode ser associado a queixas de xerostomia.
Sialografia é uma técnica de imagem que pode ser útil na identificação de pedras e massas nas glândulas salivares. Ela envolve a injeção de substância radiopaca nas glândulas salivares. A cintilografia salivar pode ser útil na avaliação da função das glândulas salivares. O radiofármaco pertecnetato de sódio tecnécio-99m é injetado por via intravenosa para determinar a taxa de absorção, da densidade e do tempo de excreção na boca. Biópsia de glândulas salivares menores é frequentemente usado no diagnóstico da síndrome de Sjögren, doenças das glândulas salivares relacionadas ao HIV, sarcoidose, amiloidose e doença do enxerto contra o hospedeiro. A biópsia das glândulas salivares maiores é uma opção quando houver suspeita de malignidade.
Sialografia é uma técnica de imagem que pode ser útil na identificação de pedras e massas nas glândulas salivares. Ela envolve a injeção de substância radiopaca nas glândulas salivares. A cintilografia salivar pode ser útil na avaliação da função das glândulas salivares. O radiofármaco pertecnetato de sódio tecnécio-99m é injetado por via intravenosa para determinar a taxa de absorção, da densidade e do tempo de excreção na boca. Biópsia de glândulas salivares menores é frequentemente usado no diagnóstico da síndrome de Sjögren, doenças das glândulas salivares relacionadas ao HIV, sarcoidose, amiloidose e doença do enxerto contra o hospedeiro. A biópsia das glândulas salivares maiores é uma opção quando houver suspeita de malignidade.
Sialografia
As causas mais comuns de xerostomia
Medicamentos
Talvez
a causa mais comum de xerostomia é a medicação. Medicamentos xerostômicos podem
ser encontrados em 42 categorias de drogas e 56 subcategorias. Mais de 400
medicamentos comumente utilizados pode causar xerostomia. Os principais
culpados são os anti-histamínicos, antidepressivos, anticolinérgicos,
anorexiantes, anti-hipertensivos, antipsicóticos, agentes anti-Parkinson,
diuréticos e sedativos. Outras classes de drogas que normalmente causam
xerostomia incluem antieméticos, agentes ansiolíticos, descongestionantes,
analgésicos, antidiarréicos, broncodilatadores e relaxantes musculares.
Pacientes
com queixa de xerostomia devem ser entrevistado e os medicamentos devem ser
revistos. Pode ser possível alterar medicamentos ou dosagens para proporcionar
o aumento do fluxo salivar. Os sintomas da xerostomia são muitas vezes piores
entre as refeições, à noite e pela manhã. Portanto, considerar modificar
horários das drogas para atingir níveis plasmáticos máximos quando o paciente
está desperto. Aconselhe seus pacientes sobre os medicamentos que podem ou não
ser esmagados. Também aconselhe-os a lubrificar a boca e a garganta com água
antes de tomar cápsulas e comprimidos. Se possível, considerar a mudança do
medicamento para um outro com eficácia comparável mas com atividade
anticolinérgica menor.
Doenças e outras condições
A
doença mais comum que causa xerostomia é a síndrome de Sjögren (SS), uma doença
inflamatória crônica autoimune que ocorre predominantemente em mulheres
pós-menopáusicas. Estima-se que cerca de 3% dos americanos sofrem de síndrome
de Sjögren e 90% desses são mulheres com uma idade média de 50 anos. SS é
caracterizada pela infiltração linfocítica nas glândulas salivares e lacrimais,
resultando em xerostomia e xeroftalmia. Esta combinação é chamada de síndrome
sicca. Não há cura para a doença, o objetivo da terapia é controlar os sintomas.
Os sintomas mais comumente associados com a SS, além de xerostomia e
xeroftalmia, incluem visão embaçada, infecções recorrentes nos olhos e boca,
disfagia ou dificuldade em engolir, dor ou ardor na mucosa bucal, alterações no
paladar e olfato, fissuras na língua e lábios, fadiga, passagens nasais e da
garganta secas, constipação e secura vaginal.
Sarcoidose
e amiloidose são outras doenças inflamatórias crônicas que causam xerostomia.
Na sarcoidose, os granulomas epitelióides não caseosos em glândulas salivares resultam
em redução do fluxo salivar. Na amiloidose, a xerostomia resulta de depósitos
de amilóide nas glândulas salivares.
Doença
em glândulas salivares relacionada ao HIV ocorre em alguns indivíduos, principalmente
em crianças infectadas. Esta doença resulta em aumento das glândulas parótidas
e, ocasionalmente, as glândulas submandibulares, resultando em xerostomia. Os linfócitos
T infiltrados são compostos principalmente por células CD8 +, em comparação com
SS onde predominam as células CD4 +.
Outras
doenças sistêmicas que podem causar xerostomia incluem artrite reumatóide, lúpus
eritematoso sistêmico, esclerodermia, diabetes mellitus, hipertensão arterial,
fibrose cística, transplante de medula óssea, distúrbios endócrinos,
deficiências nutricionais, nefrite, disfunção da tireoide e doenças
neurológicas como paralisia de Bell e paralisia cerebral. Condições hiposecretoras,
tais como cirrose biliar primária, gastrite atrófica e insuficiência
pancreática também podem causar xerostomia. Desidratação resultante da ingestão
de água deficiente, vômitos, diarréia ou poliúria podem resultar em xerostomia.
Causas psicogênicas, tais como depressão, ansiedade, stress, ou medo, também
podem resultar em xerostomia. Doença de Alzheimer ou acidente vascular cerebral
podem alterar a capacidade de perceber sensações bucais. A boca seca é frequentemente
exacerbada por atividades como a hiperventilação, respiração pela boca, fumar
ou beber álcool. Trauma na região da cabeça e do pescoço pode danificar os
nervos que fornecem sensação na boca, prejudicando a função normal das
glândulas salivares.
Terapia do câncer
Xerostomia
é a toxicidade mais comum associada à radioterapia de cabeça e pescoço. A Xerostomia
aguda associada a radiação é devida a uma reação inflamatória, enquanto a
xerostomia tardia, o que pode ocorrer até um ano após a radioterapia, é
resultado da fibrose das glândulas salivares e é geralmente permanente. A radiação
provoca alterações nas células secretoras serosas, levando a uma redução na
produção salivar e aumento da viscosidade da saliva. Uma queixa comum no início
da radioterapia é de uma saliva espessa ou pegajosa. O grau de xerostomia
permanente depende do volume da glândula salivar exposto à radiação e da dose
de radiação. Quando a dose de radiação total excede 5200 cGy, o fluxo salivar é
reduzido e pouca ou nenhuma saliva passa
dos condutos salivares. Estas alterações são tipicamente permanentes.
Certos
quimioterápicos contra o câncer também podem alterar a composição e o fluxo de
saliva, resultando em xerostomia, mas estas mudanças geralmente são temporárias.
A xerostomia pode ocorrer também durante a doença do enxerto contra o
hospedeiro. Quando os linfócitos do doador proliferam e se infiltram nas glândulas
salivares e em outros tecidos do hospedeiro, mudanças podem ocorrer em um
padrão clínico semelhante às observadas na síndrome de Sjögren.
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