A febre reumática é considerada uma complicação tardia de
uma infecção causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Esse tipo de
infecção é muito comum, mas a doença apenas se dá em indivíduos predispostos
para tal complicação. Do total de pacientes que sofrem a infecção, cerca de 2,5
a 4% desenvolverão o quadro, que inicia cerca de 1 a 3 semanas após a infecção.
Em geral, acomete crianças a partir dos 3 anos de idade sendo mais comum na
faixa dos 7 aos 14 anos. As crianças pobres estão mais expostas à infecção pelo
estreptococo e, logo, tem mais chances de desenvolver a doença. As meninas
parecem apresentar uma predisposição um pouco maior que os meninos para a febre
reumática. O quadro clínico clássico consiste em uma criança que teve um quadro
de amigdalite (dor de garganta, febre) e que cerca de 15 dias após a infecção,
inicia com dores articulares acompanhadas de sinais de inflamação (inchaço,
calor, vermelhidão local e incapacidade de utilizar a articulação pela dor) em
geral em punhos, tornozelos e joelhos aparecendo num padrão
"migratório", ou seja, a dor e os sinais de inflamação
"pulam" de uma articulação para a outra. A mais temível manifestação
é a cardite (inflamação no coração), que responde pelas sequelas crônicas, muitas vezes incapacitantes,
em fases precoces da vida. A cardite reumática manifesta-se cerca de quatro
semanas após o surto infeccioso e pode variar amplamente em sua manifestação
clínica, desde as formas inaparentes até repercussões hemodinâmicas graves, com
insuficiência cardíaca congestiva refratária ao tratamento habitual.
Mas o que isso tem a ver com o tratamento odontológico? Sabe-se
que vários procedimentos odontológicos como colocação subgengival de fibras ou
fitas, exodontias, implantes ou reimplantes dentários, procedimentos
endodônticos e periodônticos, colocação de bandas ortodônticas e procedimentos
com sangramento significativo, têm grande potencial de causar bacteremia. O problema é que um grupo de
pacientes tem alto risco de desenvolver endocardite infecciosa. Endocardite
infecciosa é uma doença grave, que resulta usualmente da invasão de microorganismos
em tecido endocárdico ou material protético do coração. A endocardite
infecciosa continua com alta mortalidade, apesar de sofisticados meios
diagnósticos e terapêuticos. Mesmo com o uso de novos antibióticos, a sua
evolução continua muitas vezes desfavorável, levando o paciente ao óbito ou a
lesões incapacitantes. Em pacientes de alto risco, havendo oportunidade para
bacteremia, pode ocorrer colonização pela aderência do microorganismo na valva
deformada. E quem são esses pacientes com alto risco de desenvolver um
endocardite infecciosa? Essa resposta tem alguns poréns, mas vamos lá.
Segundo a última recomendação da American Heart
Association (2007):
- Pacientes com válvulas cardíacas protéticas ou material protético usado para reparo de válvulas cardíacas
- História prévia de endocardite infecciosa
- Pacientes que receberam transplante cardíaco e desenvolveram valvopatia cardíaca
- Doenças Cardíacas Congênitas (DCC)
- DCC cianótica não-reparada, incluindo casos com shunts e condutos paliativos
- Defeito cardíaco congênito completamente reparado com material ou dispositivo protético, se colocados por cirurgia ou intervenção com catéteres, durante os primeiros 6 meses após o procedimento
- DCC reparada com defeitos residuais no sítio ou adjacente a ele de um curativo ou dispositivo protético (inibem a endotelização)
Entretanto, devido a alta incidência de endocardite
infecciosa em pacientes com doença cardíaca causada pela febre reumática e a
alta prevalência de má saúde bucal no Brasil, a Sociedade Brasileira de Cardiologia achou
mais adequado ampliar esse grupo de pacientes. Isto é, ela acrescentou todas as
doenças cardíacas congênitas e todos os pacientes com valvopatias, o que inclui
as causadas pela febre reumática. Obs.: Nem todos os pacientes que tiveram febre reumática apresentam valvopatias.
Todos esses pacientes, então, DEVEM receber
antibioticoterapia profilática para endocardite infecciosa antes de procedimentos que envolvam a manipulação
de tecido gengival, região periodontal ou perfuração da mucosa oral.
Mais informações:
informaçao valiosa! boa ITO
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