quarta-feira, 6 de junho de 2012

O pedido de exame histopatológico


Na prática diária, o exame histopatológico é usado principalmente como um meio auxiliar de diagnóstico. Tem também outras utilizações, tais como para auxiliar no estabelecimento do prognóstico ou para orientar na escolha mais apropriada da terapia. O preenchimento adequado do pedido é essencial para a realização eficaz de um exame histopatológico, uma vez que a identificação do paciente, os dados clínicos e os resultados dos exames complementares contribuem todos para a interpretação de alterações morfológicas no tecido.

Tão importante quanto a escolha do local a ser biopsiado, da técnica de biópsia, do manejo e fixação da amostra, o pedido de exame histopatológico nem sempre é feito com a atenção que merece. A interpretação histopatológica mais precisa de uma biópsia oral é muitas vezes dependente de uma variedade de fatores que podem influenciar a análise do patologista.

Em muitos casos, as informações clínicas são fundamentais e indispensáveis para se estabelecer um diagnóstico preciso. Um exemplo simples, as características histopatológicas de um cisto dentígero podem ser inespecíficas e na presença de inflamação, podem simular um cisto periapical inflamatório. Entretanto, se o Patologista Bucal tem informações clínicas e radiográficas (ex: lesão radiolúcida ao redor de coroa de dente impactado), o diagnóstico de cisto dentígero pode ser feito com confiança.

Informações completas sobre os dados demográficos do paciente são necessárias e úteis. Algumas doenças mostram viés definidos pela idade, sexo, etnia ou exposição ocupacional do paciente. A história da queixa principal é importante para ajudar a correlacionar os achados microscópicos com uma doença em particular. Considerando que muitas condições sistêmica ou relacionadas ao estilo de vida podem apresentar lesões orais, certamente, todas as informações pertinentes sobre a história médica e social do paciente devem ser fornecidas. Uma descrição adequada da lesão biopsiada é frequentemente útil, incluindo parâmetros tais como a cor da lesão, o tamanho e a textura. Qualquer alteração significativa da superfície deve ser anotada e uma indicação sobre se o espécime representa um processo localizado ou difuso deve ser feita. Não podemos esquecer informações a respeito da evolução clínica, como duração da lesão, alteração no tamanho ou taxa de crescimento e alteração na característica da lesão. Por último, devemos incluir no pedido o diagnóstico clínico ou as hipóteses diagnósticas. O diagnóstico clínico e a história, juntamente com o exame físico, servem como um método de triagem para a seleção de possíveis diagnósticos histopatológicos e podem excluir ou dar maior consistência a uma determinada hipótese de diagnóstico.

Infelizmente, não é incomum eu receber pedidos de exame sem informação clínica alguma, há casos em que nem a localização da lesão é fornecida. Recebo muitas lesões periapicais sem informações a respeito da relação da lesão com o dente, se o dente tem ou não vitalidade pulpar ou se foi ou não tratado endodonticamente. Quando isso acontece, nem sempre é possível dar um diagnóstico preciso. Uma vez, recebi uma biópsia sem informações clínicas e soltei um laudo inespecífico com uma observação de que era necessário uma correlação clínico-radiográfica para se estabelecer o diagnóstico. O Cirurgião-Dentista me ligou bravo dizendo que eu deveria dar um diagnóstico final, pois “dava para saber o diagnóstico pela lâmina”. Eu queria que isso fosse verdade, tudo seria mais fácil. No final, acabei indo ao consultório desse Dentista, conversamos e hoje, os pedidos mais completos são dele.  Portanto, meus queridos leitores, vamos nos dedicar um pouco mais na hora de preencher o pedido de exame histopatológico, ele faz a diferença!

Para concluir e entender a figura do post, um lembrete (ou desabafo?): Patologista não tem bola de cristal!!!


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