domingo, 29 de abril de 2012

Consequências de um diagnóstico incorreto.



Recentemente, várias mídias tem veiculado a história do jovem Oziel de Oliveira, de 22 anos, que mora em Lucas do Rio Verde, a 360 km de Cuiabá. Ele conseguiu arrecadar mais de R$ 100 mil para a realização de várias cirurgias plásticas. Ele precisa ser submetido às operações para reparar os danos causados por um câncer bucal que teve há mais de 10 anos. Oziel gravou um vídeo caseiro, postou na web e sensilibilizou internautas de todo o país, que decidiram colaborar com a causa.

A história desse rapaz nos faz pensar nas consequências de um diagnóstico incorreto. Pelo que li a respeito do caso (ajudeoziel.org e G1.com), aparentemente, o grande problema ocorreu por um diagnóstico incorreto. Como vocês podem ver no vídeo, tudo começou com um "problema no dente" que o dentista "nunca tinha visto", seguido por um diagnóstico histopatológico, mais uma vez, aparentemente equivocado de paracoccidioidomicose (PCM) e uma insistência em tratamentos ineficazes. Somente depois de 3 anos de tratamento sem sucesso foi feito um novo diagnóstico onde constatou-se um câncer de boca. Provavelmente, essa demora contribuiu para a evolução do câncer e consequentemente a cirurgias mais extensas e debilitantes.

Como sempre falo em aula: Para se fazer o tratamento correto é fundamental um diagnóstico correto! Se o tratamento não está funcionando, é bem provável que o diagnóstico esteja errado!

Algumas observações:
  • Em um país onde em várias regiões a paracoccidioidomicose é endêmica, cirurgiões dentistas e médicos devem saber que as lesões bucais da paracoccidioidomicose podem simular clinicamente um carcinoma espinocelular (CEC) e vice-versa. Há vários relatos na literatura que demonstram esse fato.
  • Um patologista razoável deve saber que, principalmente nessas regiões, pode haver confusão entre o histopatológicos dessas duas lesões quando não visualizados com atenção. Um CEC bem diferenciado pode ser confundido com a hiperplasia pseudoepiteliomatosa presente na PCM e vice-versa. 
  • O carcinoma espinocelular bucal é raro em crianças, mas não podemos excluir seu diagnóstico só por esse fato. Muitas vezes, o diagnóstico de CEC em crianças não é tão simples e devemos considerar a possibilidade de ser uma hiperplasia pseudoepiteliomatosa.

Nota importante 01: Não podemos julgar quem errou ou se houve mesmo um erro. Não temos detalhes das lâminas das biópsias, da história clínica, da evolução e da conduta. Entretanto, é importante refletirmos sobre a importância do diagnóstico. Lembrem-se que quando falo em diagnóstico, não é apenas de neoplasias benignas e malignas, mas também de cárie, gengivite, periodontite, etc.

Nota importante 02: Valorizem Estomatologistas e Patologistas Orais! Concordo com a opinião do Presidente da Sociedade Brasileira de Estomatologia e Patologia Oral, Celso Lemos Júnior: "Muito provavelmente não foi examinado por um Estomatologista e muito menos a lâmina vista por um Patologista Bucal. Mas foi examinado por dentistas e médicos."


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