quarta-feira, 18 de abril de 2012

Você sabe por que muitas fichas clínicas odontológicas perguntam se o paciente tem história de febre reumática?




A febre reumática é considerada uma complicação tardia de uma infecção causada pelo estreptococo beta-hemolítico do grupo A. Esse tipo de infecção é muito comum, mas a doença apenas se dá em indivíduos predispostos para tal complicação. Do total de pacientes que sofrem a infecção, cerca de 2,5 a 4% desenvolverão o quadro, que inicia cerca de 1 a 3 semanas após a infecção. Em geral, acomete crianças a partir dos 3 anos de idade sendo mais comum na faixa dos 7 aos 14 anos. As crianças pobres estão mais expostas à infecção pelo estreptococo e, logo, tem mais chances de desenvolver a doença. As meninas parecem apresentar uma predisposição um pouco maior que os meninos para a febre reumática. O quadro clínico clássico consiste em uma criança que teve um quadro de amigdalite (dor de garganta, febre) e que cerca de 15 dias após a infecção, inicia com dores articulares acompanhadas de sinais de inflamação (inchaço, calor, vermelhidão local e incapacidade de utilizar a articulação pela dor) em geral em punhos, tornozelos e joelhos aparecendo num padrão "migratório", ou seja, a dor e os sinais de inflamação "pulam" de uma articulação para a outra. A mais temível manifestação é a cardite (inflamação no coração), que responde pelas sequelas crônicas, muitas vezes incapacitantes, em fases precoces da vida. A cardite reumática manifesta-se cerca de quatro semanas após o surto infeccioso e pode variar amplamente em sua manifestação clínica, desde as formas inaparentes até repercussões hemodinâmicas graves, com insuficiência cardíaca congestiva refratária ao tratamento habitual.

Mas o que isso tem a ver com o tratamento odontológico? Sabe-se que vários procedimentos odontológicos como colocação subgengival de fibras ou fitas, exodontias, implantes ou reimplantes dentários, procedimentos endodônticos e periodônticos, colocação de bandas ortodônticas e procedimentos com sangramento significativo, têm grande potencial de causar  bacteremia. O problema é que um grupo de pacientes tem alto risco de desenvolver endocardite infecciosa. Endocardite infecciosa é uma doença grave, que resulta usualmente da invasão de microorganismos em tecido endocárdico ou material protético do coração. A endocardite infecciosa continua com alta mortalidade, apesar de sofisticados meios diagnósticos e terapêuticos. Mesmo com o uso de novos antibióticos, a sua evolução continua muitas vezes desfavorável, levando o paciente ao óbito ou a lesões incapacitantes. Em pacientes de alto risco, havendo oportunidade para bacteremia, pode ocorrer colonização pela aderência do microorganismo na valva deformada. E quem são esses pacientes com alto risco de desenvolver um endocardite infecciosa? Essa resposta tem alguns poréns, mas vamos lá.

Segundo a última recomendação da American Heart Association (2007):
  • Pacientes com válvulas cardíacas protéticas ou material protético usado para reparo de válvulas cardíacas
  • História prévia de endocardite infecciosa
  • Pacientes que receberam transplante cardíaco e desenvolveram valvopatia cardíaca
  • Doenças Cardíacas Congênitas (DCC)
    • DCC cianótica não-reparada, incluindo casos com shunts e condutos paliativos
    • Defeito cardíaco congênito completamente reparado com material ou dispositivo protético, se colocados por cirurgia ou intervenção com catéteres, durante os primeiros 6 meses após o procedimento
    • DCC reparada com defeitos residuais no sítio ou adjacente a ele de um curativo ou dispositivo protético (inibem a endotelização)


Entretanto, devido a alta incidência de endocardite infecciosa em pacientes com doença cardíaca causada pela febre reumática e a alta prevalência de má saúde bucal no Brasil, a Sociedade Brasileira de Cardiologia achou mais adequado ampliar esse grupo de pacientes. Isto é, ela acrescentou todas as doenças cardíacas congênitas e todos os pacientes com valvopatias, o que inclui as causadas pela febre reumática. Obs.: Nem todos os pacientes que tiveram febre reumática apresentam valvopatias.

Todos esses pacientes, então, DEVEM receber antibioticoterapia profilática para endocardite infecciosa antes de procedimentos que envolvam a manipulação de tecido gengival, região periodontal ou perfuração da mucosa oral. 

Mais informações:


Um comentário: